Os avanços da medicina deixam-nos deslumbrados, com a esperança de vida em valores estratosféricos e sobretudo com a qualidade de vida das pessoas, em termos da sua saúde.
Estes avanços, contudo, introduziram fatores de complexidade que tornam difícil navegar os recursos existentes e retirar deles o máximo benefício.
Em particular porque a linguagem médica permanece obscura e os doentes têm dificuldade em compreender os seus próprios problemas e as terapêuticas que lhes são propostas.
Eu costumo dizer que ‹‹se todos os doentes seguissem as minhas instruções, eu não teria doentes››. E nada é mais frustrante, para o médico, do que o doente que regressa pior do que estava inicialmente porque não observou as recomendações que lhe foram feitas.
Uma comunicação correta mede-se pela resposta obtida – feedback – e nos casos em que essa resposta foi inadequada, temos de assumir que a comunicação não foi veiculada da melhor forma possível.
Ora para garantir bons resultados é necessário começar por adotar uma linguagem clara, tanto quanto possível limpa de “mediquês” e adaptada à literacia de saúde de cada doente. Percebendo que essa literacia pode ser baixa mesmo em pessoas com reconhecida formação académica.
Felizmente, há um movimento a nível global no sentido de usar uma linguagem clara, especialmente por parte das entidades públicas. É um esforço que foi iniciado nos EUA, nos anos 90, e que tem tido um excelente acolhimento e resultados.
Recentemente, o Governo, no Decreto-Lei n.º 97/2019 de 26/07/2019, formulou a necessidade de uma linguagem clara, na Justiça, do seguinte modo:
‹‹O tribunal deve, nas comunicações dirigidas a cidadãos e empresas, utilizar uma linguagem simples e clara››.
Foi um passo muito importante que ficou consagrado na Lei, no que diz respeito à justiça.
Na PROSA sonhamos com o dia em que este princípio seja também adotado na saúde e propomo-nos focar as nossas energias nesse sentido.
Haja Saúde!